Proposta Criativa #4

Para este Proposta Criativa, escolhemos contar duas histórias que se complementam e ilustram bem a criatividade e a inovação do povo brasileiro. De um lado, a artista Heloisa Hariadne, que usa seu talento e criatividade para colocar beleza no mundo através de quadros ricos em cores, detalhes e, sobretudo, sentimento. Do outro, o Projeto Afro, plataforma que vem fazendo um trabalho importantíssimo na pesquisa e mapeamento de artistas negros no Brasil. Uma bela incursão pela riqueza da arte brasileira que, muitas vezes, escapa em meio a nossa mania de dar mais valor para o que vem de fora. Vale a pena conferir:

Projeto Afro

porta-voz: Deri Andrade, fundador.

Na teoria, a arte é para todos. Na prática, nem sempre é bem assim que acontece. Foi na busca por tornar a arte mais acessível para artistas que, apesar do talento, acabam ficando à margem do circuito comercial, fazendo com que cheguem à população, que o pesquisador, curador e jornalista Deri Andrade teve a ideia de criar o Projeto Afro. 

Para quem ainda não conhece, o Projeto Afro: “é uma plataforma de pesquisa e mapeamento de artistas negros/as/es no âmbito do território nacional. Entre 2016 e 2017, surgiu a ideia de criar o mapeamento, como forma de mitigar as lacunas nas quais me deparei pesquisando sobre história da arte brasileira e a presença de artistas negros nessas bibliografias”, explica Deri.

Na época, o projeto começou pequeno, como uma página nas redes sociais que trazia conteúdos esporádicos sobre a pesquisa que vinha sendo feita por Deri durante o curso de especialização em Cultura, Educação e Relações Étnico-raciais (CELACC USP). Foi em 2020, após uma chamada pública para que artistas enviassem seus portfólios, que o Projeto Afro começou a tomar forma e ganhou seu próprio site, com mais de 130 páginas publicadas. 

“Nesses dois anos de atuação, a plataforma tem pensado e organizado programações públicas, apoiado exposições e articulado uma série de ações que reverberam no mapeamento e na difusão dos trabalhos de artistas negros/as/es. Atualmente, são mais de 170 páginas de artistas no ar, com um mapeamento que já ultrapassa mais de 300 artistas. São números que marcam uma forte presença dessa produção nas diversas fases da história da arte no Brasil”.

Com foco na produção visual brasileira de autoria negra, o processo de curadoria do Projeto Afro leva em consideração uma série de fatores, tais como a menção desses artistas na historiografia da arte, de que forma suas pesquisas se materializam nesses trabalhos, e quais os pontos de contato e diferença entre suas produções. A partir disso, “a plataforma indaga sobre os eixos principais do mapeamento, que são focados na temporalidade, na região e nas técnicas trabalhadas pelos artistas, buscando mostrar a diversidade de interesses, de temas e de suportes dessa produção”, diz Deri. 

 Apesar de ainda haver um longo caminho pela frente, Deri enxerga uma evolução gradual na diversidade e na inovação do cenário artístico brasileiro e ressalta a importância da participação da academia e da população em programas de inclusão e discussões sobre temas como diversidade, raça e sociedade. “Ao voltarmos nosso olhar para a produção de artistas negros, ampliamos nosso horizonte de referenciais. De um lado ou de outro, todos ganham com a evolução da participação da população, principalmente a negra, inserida cada vez mais nesses processos de retomada e ocupação”.

Sobre os planos para o futuro do Projeto Afro, o foco no momento é a busca por editais e parcerias para viabilizá-lo financeiramente, de forma sustentável, no intuito de ampliar a gama de conteúdos da plataforma e o mapeamento em curso. Para saber mais e conferir os conteúdos da plataforma, é só acessar o site: projetoafro.com.

Heloisa Hariadne

Falando em pessoas que vêm mudando e trazendo novos ares, cores e formas para a arte brasileira, não podíamos deixar de apresentar para vocês o trabalho da Heloisa Hariadne, artista que ilustrou o editorial [NOME EDITORIAL], que você confere na pág. XX desta edição. Nascida em Carapicuíba (SP), Hariadne usa suas pinturas para construir imaginários e narrativas que se desenrolam entre temáticas ambientais, hábitos alimentares, até o resgate de saberes de povos originários. 

Através de pinturas inspiradas nas memórias de seu corpo, que questionam suas tentações e intenções em um retrato íntimo e puramente pessoal, a jovem artista busca responder a pergunta: “Quem somos nós por dentro?”. Segundo ela, a inspiração para seus trabalhos, que vêm ganhando destaque no mercado internacional, está em seu dia a dia, “no que eu quero ver ou vi nele. As composições trazem muito do meu imaginário, das formas e coisas que eu possa ter visto, me relacionado ou tenha vontade de retratar”.

No auge de seus 24 anos, Heloísa já coleciona residências em países como África do Sul e França, onde está atualmente, além de ter tido seu trabalho ilustrado no livro Enciclopédia Negra e apresentado em matérias para a Vogue Brasil e Vogue EUA. Para ela, o caminho para o mundo das artes foi alcançado através da "coragem, curiosidade e determinação para poder estar em frente ao desconhecido que é isso tudo, principalmente porque pintar me ajuda muito a aprender com meus erros que acredito ser o maior impulsionador de onde eu posso ir”.

Fazendo jus ao tema inovação e criatividade, que inspira esta edição do Coletivo, a artista demonstrou uma boa dose de jogo de cintura para fazer chegar sua arte, lá de Nice, até as páginas do nosso jornal utilizando recursos e ferramentas que nunca tinha testado antes. “Foi muito rico para mim apresentar pinturas em aquarela e ter tido a liberdade para criar como realmente quis, pois nunca tinha feito nada parecido, ainda mais a distância”.

Já sobre a tão famosa criatividade do brasileiro, o tal do borogodó, nosso jeitinho especial de fazer e resolver as coisas, Heloisa conclui que é resultado da necessidade. “Acho que o brasileiro é tão criativo por causa da precariedade imposta e por ter que se reinventar diariamente. Eu duvido muito que se todas as pessoas tivessem os recursos necessários para viverem suas vidas da forma que quisessem, nós precisaríamos ficar criando mil formas de fazer acontecer nossos planos e ideias”. 

Com um olho no futuro e nas possibilidades que ele reserva, a artista diz que pretende cada vez mais se aperfeiçoar e melhorar, levando sua pintura para mais lugares e, assim, poder se deparar com a grandiosidade de caminhos possíveis para o seu trabalho. Para saber mais sobre a artista e acompanhar suas aventuras durante a residência na França, vale seguir o perfil dela no Instagram: @heloisahariadne. 

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