Cidade Viva: Casa do Povo

Casa do Povo: convívio também é bem-estar

Prédio histórico do Bom Retiro transforma aprendizados coletivos em resistência

O poder do espaço

É difícil imaginar que alguém visite a Casa pela primeira vez e saia incólume. A própria arquitetura do prédio, construído por uma parcela progressista da comunidade judaica de São Paulo logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, é impactante: cheia de luz natural, cortada por escadas, com aspecto de estar se reerguendo após um longo período de abandono — o prédio entrou em decadência nos anos 1980 e ainda não passou por uma reforma completa da estrutura.

"A Casa do Povo é um lugar que nunca fechou, sempre foi uma associação cultural israelita mantida pela comunidade judaica progressista do bairro. Mas o espaço, que é enorme, foi decaindo naturalmente quando a comunidade começou a sair do Bom Retiro para outras regiões da cidade, e quando o próprio centro de São Paulo entrou em decadência", diz Ana Druwe. 

Entre o teatro aguardando restauro, no subsolo, e o amplo e colorido terraço onde acontecem as aulas de boxe, os andares da Casa, normalmente vazios, permitem “que as coisas sejam imaginadas", diz Ana. 

Por exemplo, o segundo andar, um enorme espaço sem paredes que pode receber de ensaios de teatro a exposições, de oficinas de costura a debates. É um lugar de experimentação coletiva, como toda a Casa, que está à disposição - veja na página ao lado algumas das vinte iniciativas coletivas que atuam na Casa do Povo hoje.

Acordos de convivência

Convivência também é bem-estar, mas ela nem sempre é fácil. É preciso, o tempo todo, fazer acordos, sempre se perguntando: qual atitude beneficia o coletivo e não necessariamente um desejo individual?

Ana cita como exemplos grupos que precisam reformular horário de refeição para que a cozinha possa ser usada por um grupo de teatro, ou uma mostra de arte que tem de mudar de lugar para ceder espaço para uma oficina. 

A ideia, sempre, é pensar em como fazer o melhor aproveitamento dessa que é uma instituição de uso comum, um processo que acaba por trazer uma sensação de pertencimento para aqueles que a Casa acolhe. Afinal, “a Casa do Povo é maior do que ela mesma", diz Ana. 

Para alcançar isso, alguns acordos são estabelecidos. Existe uma carta, redigida de forma coletiva, em que esse acordo é expresso em nove pontos, que são atualizados quando necessário. A atual Carta de Acordos da Casa do Povo, de agosto de 2022, define pontos de auto-organização, ressalta a importância da comunicação, lembra que o Bom Retiro é um território de enorme diversidade cultural, define que o funcionamento da Casa é responsabilidade de cada integrante do espaço e que "o último a sair apaga a luz e tranca a porta” — afinal, todos que ali circulam têm direito a uma chave de casa. 

Como participar

A Casa tem atividades para inscritos como, por exemplo, as aulas de boxe ou o coral iídiche, mas também promove uma porção de atividades abertas, sejam exposições de artes, feiras de produtores independentes, peças de teatro ou passeios pelo bairro. Para acompanhar, você pode seguir a agenda sempre atualizada no site e nas redes sociais.

A Casa do Povo está sempre aberta a receber novos coletivos e projetos que precisam de alguma forma dialogar com as linhas de trabalho do espaço, que é progressista e comunitário. Para entender melhor como se envolver, escreva para info@casadopovo.org.br.

Quem quiser colaborar com a Casa, pode fazer doações através do site (https://casadopovo.org.br/como-apoiar/).

Povo da Casa: conheça seis projetos

Hoje, a Casa do Povo abriga cerca de vinte projetos em diferentes estágios de desenvolvimento. Em comum, todos têm os princípios da convivência, do fortalecimento de vínculos e do cuidado coletivo. A lista de todos os coletivos está disponível no site (https://casadopovo.org.br/povo-da-casa) e deve ser atualizada no começo de 2023, quando novos projetos devem chegar após o chamamento realizado na virada do ano, um processo que ocorre desde 2016. Conheça seis deles:  

Coral Tradição

Músicas folclóricas e populares, sempre em iídiche, para preservar as canções e valores culturais para as novas gerações. Na Casa desde 1988, o coral regido pela maestrina Hugueta Sendacz tem integrantes de diversas faixas etárias e faz ensaios todas as segundas. Interessados podem se cadastrar para conhecer, sem compromisso, a partir de um formulário no site https://casadopovo.org.br/coral-tradicao/).

Yoga para Todes

As aulas da instrutora Vanessa Joda são para quem quer a prática regular de yoga na vida. O curso é fundamentado nos preceitos da hatha yoga, que trabalha autoconhecimento e autocuidado, exercícios de respiração e muito foco na postura. Como o nome diz, a prática é para pessoas de todos os tamanhos, idades e experiências. As aulas acontecem em duas turmas diferentes, às terças e quintas (às 10h30 e às 20h) e não é preciso inscrição prévia, basta comparecer com roupas confortáveis e seu próprio tapetinho. Não existe matrícula ou mensalidade, mas as aulas trabalham com um esquema de contribuição consciente.

Boxe Autônomo

O grupo existe desde 2015 e, atualmente, oferece aulas com horário fixo e mensalidade sugerida no terraço da Casa do Povo, um espaço amplo e aberto com vista para os telhados do Bom Retiro. É uma proposta de esporte popular a partir da perspectiva da atividade física como direito social e do cultivo de valores antifascistas, antirracistas e contra qualquer forma de discriminação.  Pessoas interessadas em participar podem se inscrever através do formulário disponível no site (https://casadopovo.org.br/treinos-boxe-autonomo/).

Empreendedoras Sin Fronteras

O grupo de mulheres imigrantes empreendedoras se juntou na casa durante a pandemia e montou uma oficina para produção têxtil em pequena e média escala, estabelecendo parcerias com marcas e atuando no circuito de moda consciente. Os produtos da cooperativa podem ser comprados pelo site ou presencialmente na Casa e os lucros ajudam na formalização da cooperativa e na formação das participantes. Dá para acompanhar pelo Instagram  @emprendedorassinfronteras.

Coletivo de Diálogo e Diversidade de Táticas

Com encontros regulares, esse grupo proporciona pesquisa e prática de escuta ativa e comunicação não-violenta para ajudar na construção de um mundo onde cabem muitos mundos — uma ideia que define muito bem a própria Casa do Povo. Os encontros são divulgados na agenda da Casa (https://casadopovo.org.br/programacao/) e abertos a todos.

Coletivo Mitchossó

O coletivo reúne pessoas da colônia coreana para repartir relatos e conversar sobre diferentes vivências pessoais, sem receio de entrar em assuntos que podem ser polêmicos (ou proibidos) dentro da comunidade. Com foco na experiência das mulheres, as reuniões buscam criar laços. A expressão coreana "mitchossó" pode ser  traduzida como “você enlouqueceu?” e é usada para questionar comportamentos que sejam de alguma forma transgressores ou incomuns. É possível conhecer pelo Instagram @mitchosso.

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