Quem Entende: Investir além do Óbvio

Monique Evelle por Pablo Saborido

Monique Evelle por Pablo Saborido

 

O óbvio precisa ser dito: pluralidade inspira inovação. E inovação parte da premissa de fazer funcionar.

Será inovadora toda ideia que tiver como objetivo resolver um problema que já existe. O objetivo não é reinventar a roda. É identificar o que pode atrapalhar o caminho que ela percorre.

Existe um conceito comum entre startups, que é o de ecossistema de inovação - o ambiente mais propício para criar um negócio. Trata-se de um espaço em que pessoas com diferentes especialidades e perfis estão dispostas a identificar problemas reais. Por outro lado, neste mesmo lugar, existem outras a fim de investir em conhecimento para encontrar soluções. É assim que nascem algumas empresas que hoje valem — ou em breve valerão — milhões.

Mas e quando a inovação já existe, porém o ambiente é pouco favorável, o que tem sido feito para investir nessas pessoas, ideias e organizações com potencial de desenvolvimento de soluções? Infelizmente, algumas dessas propostas morrem, principalmente por causa da cor e da origem de quem as propôs.

A título de curiosidade, enquanto 41% das startups fundadas por pessoas não-negras receberam algum tipo de aporte, apenas 32% dos fundadores negros obtiveram investimentos, é o que revela o estudo Panorama do ecossistema de startups no Brasil — rumo à diversidade racial, desenvolvido em 2021 pelo BlackRocks Startups e pela Bain & Company. O problema é tão aparente que 91% dos participantes da pesquisa afirmam não existir diversidade racial no ecossistema de startups.

Essa falta de aporte é apenas um sintoma do que acontece em uma esfera mais ampla. Mais de 10 milhões de empreendedores brasileiros tiveram de fechar os seus negócios nos últimos dois anos. Isso significa que o Brasil caiu da 4ª para a 7ª posição no ranking global de empreendedorismo, uma queda nunca vista antes. Em contrapartida, o número de novos empreendedores é o maior desde 2015. Ou seja: estamos vendo casos de empreendedorismo por sobrevivência, desespero e sem nenhum preparo. Nesse cenário, sem orientação e sem suporte, esses negócios correm o risco de fechar em três meses. O ecossistema de empreendedorismo no Brasil é precarizado e, assim como em outras áreas, atravessado pelas consequências do racismo estrutural.

Por isso, meu objetivo atual é levar o Brasil para o TOP 3 do ranking global de empreendedorismo. Há 1 ano tenho dedicado meu trabalho, quase exclusivamente, para fazer disso uma realidade - e as iniciativas já estão na rua.

Em agosto de 2020, criei, em sociedade com Lucas Santana, a Inventivos, uma plataforma completa e exclusiva de formação de novos empreendedores. Em março de 2021, junto com uma instituição financeira, colocamos na rua um fundo de investimento para startups fundadas ou lideradas por empreendedores negros.

Se apostarmos agora em pessoas que querem empreender, temos mais chances de continuar gerando renda para o país que, se tratando de pequenos negócios, já alcança valores de produção que representam 27% do PIB nacional.

Mas as perguntas que mais recebo todos os dias são: por onde começar a empreender? Vou precisar de muito dinheiro? De alguém que aposte na minha ideia? De uma ideia perfeita? Terei de pedir demissão? Vou precisar de mais tempo?

É importante entender que o medo vai fazer parte da jornada e perguntas como essas, que vão fazer você se sentir cada vez mais longe de tornar o seu negócio possível, surgirão.

Vai dar medo de errar em público, medo de dar certo e não dar conta, medo do que podem pensar, medo de ter sido radical demais na decisão. Mas o medo que geralmente é ignorado é o de não conquistar o que sempre se sonhou. Já se perguntou qual o preço de estagnar a vida como está? 

Para se ter uma ideia, dentro da Inventivos, todos os membros que passaram a viver do próprio negócio começaram sem as condições perfeitas. Além de orientação e iniciativa para executar, eles encontraram um ecossistema propício para investir. Pessoas que entendiam exatamente como as outras se sentiam e que juntas encontraram soluções que foram contra a comum solidão de quem escolhe empreender. Esse é um dos principais aprendizados: o empreendedorismo não precisa ser solitário, sem apoio, sem alguém torcendo por você.

Para começar, é só olhar ao redor e entender a seguinte mensagem: é possível. Você terá vontade de ser aquilo que você consegue ver. Esteja onde as pessoas acreditam que é possível dar certo. E se acostume. Porque dar certo é um caminho sem volta. Ainda bem.

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